O último cruzeiro a bordo do Costa Mediterranea: Rumo à nova casa de lata

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Atualizado em 29/06/2021
Por: Bruno

Atualizado em 29/06/2021
Por: Bruno

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O nosso último cruzeiro à bordo do Costa Mediterranea começava em Savona. Na verdade, nós não sabíamos que este era o nosso último. Após sairmos do porto, alguém passou por mim no corredor e falou – Aee, vai ser transferido!.
Eu não entendi muito bem, então resolvi checar no board ao lado do Crew Office. E estava lá, em 12 dias minha casa seria outra, tudo mudaria. E na lista haviam outros nomes. Embarcamos juntos, seríamos transferidos juntos, o William, Júlio e eu, e a Débora estava na lista também, o problema é que eles três iriam para o Costa Serena e eu, sozinho, iria para o Costa Fascinosa, navio novo com regras novas, supervisores novos e todos os olhos virados para lá, mas tinha um roteiro que eu gostava muito, tendo como homeport, a cidade de Veneza. O pior era para a Débora, que a mãe tinha embarcado no mesmo dia, e faria esse cruzeiro ao lado dela como passageira, só não esperavam que fosse o último, e ainda bem que a mãe dela não embarcou um cruzeiro depois, senão, teria de ficar sozinha por um cruzeiro. Mas pior mesmo era porque ela namorava um indiano que em poucos dias dias embarcaria no Fascinosa, enquanto ela iria para o Serena. Ficamos tristes e irritados por acontecer tudo tão em cima da hora, sem aviso prévio, mas essa é a vida a bordo e o que podemos fazer? A ficha ainda não havia caído, pois deixaria para trás, pessoas que admirava muito, amigos que eu podia nunca mais rever, e a italiana, que também não gostou muito da ideia, mas já estava nessa vida há um tempo, então estava acostumada, só não sentiria falta do meu novo cabin mate indonésio, que embarcou quando o William foi não transferido, e teve de ir pra outra cabine, e o indonésio NUNCA saía da cabine para me deixar um pouco mais a vontade, que mala.
Mas a vida segue, e o último cruzeiro estava cheio de coisas pra fazer e teria a festa da independência do Brasil, que ficou uma grande expectativa depois da bela festa que os indianos fizeram para comemorar a independência da Índia alguns dias antes.

O último cruzeiro a bordo do Costa Mediterranea: Rumo à nova casa de lataNo dia seguinte à notícia do transfer, estávamos em um at sea, e resolvemos conversar com o Poojary, que sabendo que seríamos transferidos, nos colocou em um bom horário para que pudéssemos aproveitar ao máximo os lugares por onde passaríamos e como a mãe da Débora estava a bordo, ele nos daria um lunch off no porto de Civitavecchia, para que fôssemos conhecer Roma. Mas o que mais preocupava a Débora, era não poder ir para o mesmo navio que o namorado, eu não sabia o que fazer, mas queria ajudar, e então fomos falar com o maitre, pedindo para que nos mudassem de navios, afinal, tínhamos a mesma posição e a data seria a mesma.

Ele disse que seria difícil, pois isso não se mudava da noite pro dia, mas que tentaria. Nós achamos que não era suficiente falar com o maitre e resolvemos enviar um e-mail para Martina Milano, a responsável pelo departamento de restaurante de toda a Costa Cruzeiros, explicando toda a situação.

Eu queria muito fazer o roteiro do Fascinosa, mas estava decidido a ajudar a Débora, que era minha amiga desde os primeiros dias a bordo. A Crew Purser falava que essa troca não aconteceria, então tínhamos que esperar.

Estávamos no porto de Katakolon, e eu só queria uma conexão de internet para avisar que estava tudo bem e que seria transferido, pois eu já conhecia uma parte de Katakolon, claro que não o suficiente.
No dia seguinte, estávamos em Izmir, na Turquia. Um lugar que não tinha muita coisa perto do porto, mas eu gostava bastante, sempre ia à beira do mar, para ver as enormes águas vivas que chegavam perto das paredes do pequeno cais.
Costa Mediterranea - Katakolon

Costa Mediterranea – Próximo ao Porto de Katakolon, Grécia

Costa Mediterranea - Porto de Izmir - Turquia

Pequeno cais de Izmir, Turquia

Teríamos dois dias de at sea pela frente, até chegarmos à Ashdod, Israel. Então, aproveitamos a chance para pressionar o maitre e perguntar como estavam as coisas a respeito do nosso transfer e da troca de navios, mas é claro, não havia resposta alguma.

A mãe da Débora que estava a bordo esse cruzeiro, também acompanhava a situação do transfer, e acabou virando tão amiga dos tripulantes que foi em uma Crew Party nossa no crew bar, todos acharam engraçado ver a mãe de um tripulante curtindo a festa conosco.

Havíamos passado mais da metade do cruzeiro e a festa da independência do Brasil estava chegando, já havíamos comprado a camisa em Atenas, depois de uma bagunça na loja, e estava quase tudo certo para a nossa festa, o que mais nos incomodava era não ter uma resposta em relação a que navio iríamos realmente.

E em mais um dia de at sea, nós fomos ao maitre, e aí sim, nós fomos surpreendidos novamente, eles tinham uma resposta em relação ao nosso transfer. Eu iria para o Serena e a Débora iria para o tão sonhado Fascinosa, onde o namorado embarcaria em alguns dias. Eu estava feliz por ela, era a rota que eu queria fazer, mas ela era uma das pessoas mais amigas a bordo, e eu iria com o William e Júlio para o Serena.

Festa da Independência do Brasil

Depois de termos os navios definidos, estávamos tranquilos e o dia da festa da nossa independência havia chegado. Passamos o dia inteiro falando disso, chamando as pessoas e organizando os últimos detalhes no salão de festas.
À noite depois da feijoada preparada pelo Mário, peruano, jantamos no Staff Mess e em seguida todos foram para o salão. A festa foi bem legal, embora abaixo do que esperávamos, e claro, teve uma surpresa no fim, por conta da garrafa de 51.
Fiquei à beira de um mais warning no Mediterranea, que pelo que me disseram, zerava quando eu fosse transferido, e já que isso aconteceria em poucos dias, eu fiquei menos preocupado. Essa foi uma festa de despedida para nós, já que o cruzeiro estava quase no fim.
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Rapaziada na Festa da Independência do Brasil

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Feijoada no Staff Mess

No dia seguinte, mais um at sea, aproveitei para ficar as poucas horas livres com a italiana, pelo menos quando o indonésio deixou, nós não tínhamos nada sério a bordo, mas era estranho ir embora assim, depois de dois meses, que no navio parecem dois anos.
Mas tínhamos a intenção de nos encontrarmos quando os navios se cruzassem em algum porto. Aproveitei também, para pegar umas dicas sobre Roma e o que fazer, por onde andar, já que no dia seguinte, teríamos o sonhado lunch off para ir à cidade tão famosa. À noite, trabalhei um pouco a mais para deixar tudo pronto, para no dia seguinte, deixar a estação bem abastecida e sair pelo menos uns quinze minutos antes.

Rumo a Roma

Às cinco da manhã eu já estava no buffet, preparando tudo para o café da manhã e louco para dar o horário de sair, rumo à Roma. O buffet lotou rapidamente pois todas as excursões saíam muito cedo também para Roma.

Às nove da manhã, nós já estávamos passando a gangway, e indo pegar o shuttle bus para sair do porto e pegar o trem que nos levava até as estações de Roma.

Depois de quase uma hora no trem confortável (que eu dormi inclusive), veio o aviso de que a próxima estação seria a Piazza San Pietro, a do Vaticano. Logo na saída, era possível ver a catedral no fundo por entre os prédios.

Chegamos no Vaticano, e ficamos encantados com a beleza e magnitude do lugar, passado um tempo, pegamos um ônibus rumo ao Coliseu, descemos no local indicado e fizemos uma pausa para um sorvete até que viesse o outro ônibus.

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A Basílica de São Pedro, ao fundo

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Piazza San Pietro, com a Basílica de São Pedro, ao fundo

O segundo ônibus fazia uma volta que passava por grandes monumentos e lugares históricos da cidade até nos deixar no começo da rua que nos levaria ao gigante. Após dois minutos andando, já era possível avistar o imponente Coliseu, gigante, ocupando toda a paisagem ao fundo, e do nosso lado direito, se estendendo por toda a rua o Fórum Romano.

Chegando no Coliseu, foi difícil segurar a emoção de ver de perto, algo que eu sempre via nos livros da escola e sempre ouvia falar como uma das referências para o mundo se tornar o que é hoje, foi como quando eu estive em Acrópole, Atenas.

Roma - Coliseu5

O Coliseu de Roma | Il Colosseo

Depois de algum tempo em frente ao Coliseu, fomos rodeando-o pois era impossível entrar pelo tamanho da fila, paramos pra comer e depois voltamos para a parte de trás. Quase na hora de voltar para pegar o trem, entramos na estação de metro Colosseo, e fomos até a estação de trem Roma Termini, para voltar a Civitavecchia.

Mais uma hora de trem, e estávamos novamente em Civitavecchia, onde ficamos por mais uns minutos até voltar ao barco. O dia foi incrível! A oportunidade de conhecer Roma foi única.

Roma - Coliseu

Em frente ao Coliseu, Roma

 

Roma - Coliseu2

Comendo com o Coliseu ao fundo

Na Proa da Vida - mini logo

Essa já era a nossa última noite a bordo do Mediterranea, a Débora teve a péssima notícia de que haviam mudado o navio dela de novo, e agora todos iríamos para o Serena. Era cada vez mais estranho deixar o navio que em tão pouco tempo, havia virado a minha casa, mesmo sabendo que o Serena seria a definitiva, pelo menos pelos próximos 6 meses.

No Crew Bar, alguns amigos apareceram para uma pequena despedida e mais tarde a italiana, que parecia triste de me ver indo, mas conformada com a vida a bordo, e como sempre, meu cabin mate indonésio não me deixou sozinho na cabine, mesmo pedindo antes.

Crew Bar - Costa Mediterranea

Brazucas nos crew bar


Passei a noite em claro, e como havia prometido ao Poojary que trabalharia na manhã do transfer para não deixá-lo na mão, levantei às cinco. A Débora, que também havia prometido, não tinha aparecido no buffet e também não atendia na cabine, eu já imaginava o que havia acontecido, então comecei a arrumar a linha dela também, até que o Poojary chegou e começou a arrumar também, sem reclamar pois sabia que ninguém trabalhava em dia de transfer ou desembarque. Pouco depois, a Débora chegou no buffet acabada, com cara de festa.

O café da manhã estava aberto e nós atracando em Savona, o nosso porto de sempre, a Noemi, mãe da Débora veio se despedir e agradecer pela ajuda à filha. Eu trabalharia até as nove, mas pensei em largar o buffet quando vi lá no fundo, entrando no porto, a minha nova casa, o Costa Serena.

Era maior que o Mediterranea, e na hora fiquei impressionado e com vontade de ficar onde estava. Antes das nove o café da manhã já estava acabando e eu desci, precisava arrumar a minha mala, que como sempre, ficou pra última hora. Algumas coisas não couberam, então coloquei na mala da Débora, já que ela ia pro mesmo navio.
O último cruzeiro a bordo do Costa Mediterranea: Rumo à nova casa de lata
Malas prontas, fomos todos para o Crew Office, onde o nosso transfer viria. Alguns amigos passavam pra se despedirem, e o Jhonata, resolveu que ficaria até a hora em que fôssemos embora, mesmo que dormindo por ali mesmo.

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Jhonata dormindo em frente ao Crew Office

Eu já havia me despedido da italiana, mas ela veio para mais um abraço na gangway, não teve emoção como no abraço de antes, que rolaram até umas lágrimas. Depois de muito tempo esperando, o nosso transfer havia chegado, e era hora de deixar a nossa casa, rumo à outra.

Me despedi de todos os amigos que vieram, mas o mais difícil foi o Jhonata. Éramos como irmãos a bordo, e podíamos nunca mais no ver, pois ele tinha previsão de ida pra outro navio. Choramos feito crianças na gangway (não tenho vergonha de falar), achava difícil outra amizade como aquela a bordo, onde quase tudo é interesse em algo material.

O Alan nos acompanhou até o outro lado do porto, onde deixamos as malas para serem examinadas. Me despedi de outro grande amigo, e passei para a área de embarque do Serena. Havia uma fila grande de tripulantes para embarcar, a Crew Purser brasileira, Adriana, não parecia tão amigável aquele dia.

Conferindo nome e passaporte estávamos com tudo certo, mas quando chegou a vez da Débora, tivemos uma surpresa muito grande. O nome dela não estava na lista de embarques do Serena, então ela não poderia entrar no navio, perguntamos se poderia voltar ao Mediterranea, mas também não era possível, pois já a haviam desembarcado.

Como já havíamos passado pela Purser, não podíamos voltar para ajudar, então tivemos que entrar no navio, deixando a Débora com as malas na gangway, fiquei preocupado pois não sabia para onde ela iria no final e foi estranho deixá-la para trás.

Por dentro, o Serena era um navio mais novo, com uma estrutura maior e mais bonita, mas eu ainda gostava do Mediterranea. Tivemos o Safety Training, com o Francesco, officer italiano FDP. Daí, eu já imaginava que não seria nada fácil a vida no Serena.

O Jason, namorado do Júlio, veio até o Serena se despedir dele, e como estávamos em curso, ele disse que o esperaria na porta do Training Room. O curso demorou muito, e todos os visitantes já deveriam estar fora do navio, então o Júlio saiu da sala por uns minutos e voltou aos prantos. O dia estava sendo ruim pra quase todos.

Todos nos grupos do Facebook já falavam mal do Serena, e parecia que a energia não era das melhores. Depois do curso, fizemos todos os procedimentos de cabine, uniforme e laundry e fomos nos preparar para o primeiro turno de trabalho no Serena.
Eu me sentia mal por várias coisas, mas não podia reclamar, sabia que a vida a bordo era assim, nos trás muitas coisas boas, mas as leva em um piscar de olhos.
Só me arrependo de não ter aproveitado mais em todos os portos que passei, curti muito na maioria, mas em alguns, eu sempre deixava para a próxima vez, já que passaríamos várias vezes nos mesmos portos e o transfer era uma coisa distante.
A melhor coisa a se fazer, é esquecer um pouco da vida em terra firme, e aproveitar o momento a bordo, essas coisas são únicas, as experiências incríveis e claro, ser grato à todas as mudanças e aprendizados que essa vida nos traz.
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Somos Bruno & Vic, dois viajantes que se conheceram e se apaixonaram trabalhando a bordo de um navio de cruzeiros. Em 2016, saímos em uma viagem ao mundo e, desde então, levamos a nossa vida na estrada. Entre caronas, voluntariados e trabalhos online compartilhamos nossas inúmeras experiências e pouco dessa vida nômade aqui no Blog Na Proa da Vida, veja mais

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Bruno
Já morei numa casa de lata flutuante onde o maior prazer era descobrir os sete mares. Trabalhei nos maiores eventos esportivos do mundo e vi o Bolt voando para mais um ouro no Rio de Janeiro. Hoje viajo o mundo sem data de volta para casa, na verdade, tenho chamado o mundo de minha casa. Não conto quantos países conheci pelo número de carimbos no passaporte, pois às vezes conheço dez países dentro de um só. Mergulhador e amante do oceano, amo aprender novos idiomas e coisas novas e escrevo sobre algumas das minhas aventuras no Na Proa da Vida.

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