Após uma pequena cochilada, depois de tantos álbuns ouvidos e filmes assistidos, eu acordei. Estávamos chegando no continente europeu e lá fora o amanhecer formava uma imagem linda do nascer do sol, que subia no horizonte numa cor amarelada com umas estrelas ainda presentes e fortemente brilhantes, que visto da janela do avião, dava a sensação de que era uma coisa de outro planeta.
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Chegando na Europa a caminho da pequena Celle Ligure
Às quase 8h da manhã, aterrissávamos em Roma. Estava um dia de sol no recém-chegado verão europeu, um clima para nós (brasileiros) normal e agradável, para eles motivo de maior alegria. Pequenos ônibus vieram buscar os passageiros na pista para levar-nos até a área de imigração, onde havia filas gigantescas. Fui seguindo o fluxo de pessoas até que um homem, que parecia policial, me perguntou em italiano, onde eu estava indo e porque estava na Itália.
Como ainda não havia aprendido o suficiente para falar em italiano, respondi em inglês que era tripulante da Costa Cruzeiros e estava embarcando, ele não entendeu, então mostrei um cartaz na parede onde, por sorte tinha uma propaganda de cruzeiros da Costa. Ele olhou desconfiado, eu mostrei a carta de trabalho e falei as palavras “work”, “ship”, “cruises”. Não sei se havia entendido, mas me deixou passar sem nenhum interesse em saber mais, como se a única intenção dele fosse me fazer perder tempo explicando. Passando pela imigração, havia fila para todos os lados e eu deveria cruzar o aeroporto para chegar ao terminal de voos domésticos, pois o voo para Genova sairia às 09h50.
Andei alguns minutos por uma parte mal sinalizada do aeroporto e fui pedindo informações aos funcionários, que não entendiam muito o inglês e o falavam com um sotaque extremamente forte, o qual eu teria de me acostumar nos próximos meses. Consegui chegar a um shopping que fica entre um terminal e outro, e tive a péssima ideia de tentar alguma conexão wi-fi no computador, para mandar alguma notícia para casa. Não consegui nada, pois todas eram fechadas e pagas e acabei esquecendo do horário do voo.
Cruzando o resto do aeroporto mais rápido que toda a parte que já havia percorrido, estava na frente do portão de embarque, onde no painel dizia: Last Call – AZ 1383 – Genova. Já não havia mais fila e todos estavam embarcando no ônibus que nos levaria até a aeronave. Levei uma bronca em italiano da pessoa que conferia os bilhetes e corri para embarcar no ônibus já lotado.
O segundo avião era completamente diferente, pequeno e com muitos lugares vazios, me dava a liberdade de aproveitar todas as poltronas confortavelmente enquanto as comissárias da Alitalia, quase senhoras, passavam as instruções. O voo foi muito tranquilo, curto como a ponte aérea SP-RJ, eu estava sozinho na janela, olhando a imensidão do mar mediterrâneo e suas pequenas ilhas com barquinhos ao redor. Sem saber que região era aquela, avistei uma ilha, também pequena, com um barco atracado, que à medida que nos aproximávamos crescia o seu tamanho.
Uma surpresa e tanto…
Para a minha surpresa, era um navio da Costa Cruzeiros estacionado na ilha, consegui identificar pela chaminé amarela, porém analisando melhor a posição do navio, a resposta me veio com um choque. Era o Costa Concordia, que havia naufragado meses antes na ilha de Giglio, em uma das maiores tragédias marítimas do século. A cena era assustadora, e era muito difícil de imaginar como o acidente aconteceu dado o tamanho da ilha se comparado à imensidão do mar em volta. Fiquei com essa imagem na mente nas horas seguintes, principalmente porque estava indo rumo ao meu primeiro contrato e primeira vez em um navio.
Chegando na pequena Celle Ligure
Chegando em Gênova, no pequeno e vazio aeroporto, foi tudo muito rápido, e havia um motorista esperando por tripulantes da Costa. Descobri que no mesmo avião, havia mais três tripulantes, que embarcariam em outros navios. O trajeto do aeroporto para o hotel na pequena Celle Liguere foi tranquilo, pois a paisagem litorânea era linda demais. Chegando ao hotel, muito bem recebido, peguei a chave do quarto e fui correndo deixar as coisas. Era um quarto simples, com três camas e uma varanda, com vista para rua, que levava à praia e, do outro lado, uma linha de metrô, que passava fazendo um pequeno barulho.
Na TV, um programa da tarde, estranho, com pessoas brigando, semelhante ao que temos no Brasil chamado “Casos de Família” a qualidade era tão péssima ou pior que o brasileiro, embora eu nunca tenha visto direito. Desci para almoçar e no caminho comprei um cartão com a senha do wi-fi, para mandar as mensagens e fazer ligações via Skype, chegando ao restaurante conheci dois brasileiros (William e Júlio), que almoçavam com um senhor italiano, o motorista que os havia trazido ao hotel.
Eles embarcariam no mesmo navio e departamento que eu, então o almoço serviu para trocarmos ideias e informações do que achávamos e dividir a ansiedade pré-embarque. Após o almoço, descobri que dividiria o quarto com os dois brasileiros, deixaram as malas e fomos conhecer os arredores, fazer ligações, ver um pouco de praia e gente.
Como toda pequena cidade italiana, estavam em horário de siesta e foi quase impossível comprar um cartão telefônico para ligar pro Brasil, precisávamos também imprimir os antecedentes criminais, que havíamos esquecido e sem o qual, não embarcaríamos segundo a nossa agência, tivemos a sorte de encontrar um pequeno hotel que realizava estes serviços de impressão. Depois de horas andando, conseguimos o cartão e fazer as ligações que seriam as últimas dos próximos dias. Cansados de andar pela simpática e pequena Celle Ligure, voltamos ao hotel para jantar e descansar para o dia seguinte, que seria o dia que tanto esperávamos. O dia do embarque…
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