Eu não fazia ideia, mas este seria um dos cruzeiros mais loucos e inesquecíveis de toda a minha vida a bordo. Era um cruzeiro longo (14 dias), navio lotado, novo horário e lugares incríveis para conhecer. Não sabia que ia entrar em uma encrenca no navio logo no início do meu primeiro contrato mas, com certeza rendeu altas histórias que vou contar a seguir.
Visitando a Grécia antes da encrenca no navio
Após um dia de at sea, chegamos a Katakolon, na Grécia. Pequena cidade, porém um lugar muito bonito e tranquilo. Desci sozinho para comer algo e entrar em contato com a família, já que no dia seguinte estaríamos em Mykonos e eu estaria de Port Manning de novo e não poderia descer na ilha. Nesse meio tempo, eu já fazia alguns amigos a bordo e me sentia mais a vontade. A Débora e o Christian me ajudaram muito nisso.
Visitando Izmir, na Turquia
Passada a dor de não poder descer em Mykonos, chegamos na Turquia, país pelo qual eu me apaixonaria eternamente. Estávamos em Izmir, um lugar parado, sem nada pra fazer ou visitar por perto, mas me encantou pelo estilo diferente das outras cidades que havíamos passado. Novamente sozinho, saí para comer algo, conhecer os arredores do porto e tirar umas fotos, assim que conseguisse fugir dos vendedores que ficam na frente do porto, pois eles são insuportavelmente insistentes.
Visitando Istambul, na Turquia
O melhor de todos os dias estava por vir, quando estaríamos em ISTAMBUL! Eu não sabia o que faria, ou pra onde iria. Comecei a trabalhar cedo e, quando vi, estávamos entrando em um estreito canal por onde passava o Black Sea (Mar Negro) e começava uma exposição a céu aberto de lindas e imponentes mesquitas. Atracamos e, após uma hora, eu já estava livre para sair. Esbarrei com o Christian, que também tinha tempo para sair e conhecia a cidade, e então essa foi a primeira vez que saí com a companhia de alguém desde que estava a bordo.
Foi um dos melhores dias da minha vida! Istambul era completamente diferente de tudo que já tinha visto, uma mistura de cores, idiomas, artes, religiões… Eu simplesmente me apaixonei pela cidade, fizemos todo o trajeto andando e, em um momento, pensamos em pegar táxi, mas foi absurdo o valor cobrado e não aceitamos. A Mesquita Azul é um must e Istambul merece um post dedicado, pois poderia escrever páginas e páginas para falar da cidade.
Algumas fotos de Istambul, Turquia
Começando a encrenca no navio
Após esse dia, achei que nada mais nesse cruzeiro me surpreenderia tanto, eu poderia trabalhar por muitas horas seguidas graças à energia adquirida em um dia. Eu ainda não sabia o que era ir ao Crew Bar, e quando pensei que seria a hora de ir, algo de diferente aconteceu.
Durante o café da manhã, notei que uma passageira me olhava enquanto eu trabalhava e, com a desculpa de que ia pegar algo, ela veio até a linha do buffet em que eu estava e perguntou algo. Nós conversamos rapidamente e ela se foi, a única coisa que sabia é que era espanhola. À noite, quase acabando o meu horário e pronto para descansar ou ir ao Crew Bar pela primeira vez, ela apareceu no Buffet com uma amiga. Parou e conversamos por uns minutos, não lembro como, mas ficou entendido que ela me esperaria no Deck 10.
Todo tripulante sabe que é estritamente proibido qualquer tipo de relacionamento com hóspedes do navio, que não seja relacionado ao trabalho. Mas é claro, todo tripulante (ou quase todos) esquecem essa regra. Subi ao Deck 10, e ela me esperava. Conversamos por cerca de uma hora e parecia que essa história de “um amor a cada porto/cruzeiro” começaria ali, um pouco cedo, mas parecia. Ainda faltavam cinco dias para o cruzeiro acabar e o deck 11 acabou se tornando o nosso “meeting point”.
Abusamos da sorte, ao sermos vistos pelo irmão dela, que não viu que se tratava de um tripulante e sim que a irmã estava se envolvendo com algum passageiro. Meu supervisor Yogesh me viu passando com ela após o trabalho, rumo ao Deck e disse “I didn’t see anything”. Dei sorte, pois outros supervisores teriam contado aos seguranças. Mas, antes que o cruzeiro terminasse, a sorte não foi tão grande.
A gente sempre pode piorar as situações
Em uma das noites, havíamos mudado do deck 11 para o deck 10, pois em nenhum dos dias tínhamos visto alguém da segurança, então estaria tranquilo. ERRADO.
De longe eu ouvi uma música indiana vindo em nossa direção, era o celular de um dos seguranças. Antes que ele chegasse onde estávamos, nós nos separamos e fomos para lados opostos. Dei a má sorte de passar pelo segurança, que deu a volta e me seguiu. Ela estava me esperando no Deck 9 e, quando me viu, veio falar comigo. Tentei impedir, mas ele já tinha percebido tudo.
Sem nametag, com parte do uniforme na mão, em área de passageiro, se envolvendo com uma passageira, isso só significava uma coisa: DESEMBARQUE.
A resolução de toda essa encrenca no navio
O segurança indiano me perguntou o que eu achava que estava fazendo e eu disse que não sabia de nada. Ele me perguntou há quanto tempo eu estava a bordo. Informei que faziam cerca de vinte dias e era o meu primeiro contrato. Ele gritou perguntando se eu queria ser desembarcado nessas condições, em tão poucos dias a bordo.
A última coisa que queria era ser desembarcado, ainda mais com somente vinte dias a bordo. Pedi milhares de desculpas e disse que não sabia das regras em relação as passageiras. Gritando, ele me mandou descer diretamente pra minha cabine, não demorei um minuto. Eu estava muito nervoso, mas agradecendo por não ter acontecido o pior.
Após cinco minutos na cabine a espanhola me ligou perguntando o que havia acontecido. Ela disse que ele tinha ido falar com ela perguntando diversas coisas mas, como ela nada devia, simplesmente o ignorou.
Deste dia em diante, prometi pra mim mesmo que não me envolveria mais com passageira alguma. Continuamos nos falando nos últimos dias e no dia de desembarque em Savona, ela veio se despedir de mim, chorando, me entregou um papel com um desenho que havia feito (ela desenhava muito bem) e os contatos. Ela disse que viria ao porto de Barcelona em outras vezes pra me ver, o que eu achei uma ótima ideia, pois havia gostado muito dela. Ela veio ao porto de Barcelona uma vez, mas nunca conseguimos nos ver novamente. Foram dias diferentes e intensos, no que se tornou um cruzeiro completamente fora do normal.
Depois desse grande susto e essa encrenca no navio, eu me voltei mais pra o trabalho e tentando não fazer mais besteira nenhuma, pois o segurança indiano ainda me olhava torto. Com o passar dos dias, eu me sentia mais a vontade a bordo, fazendo vários amigos e me dando bem com os supervisores a cada dia que passava.
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