O nosso último cruzeiro à bordo do Costa Mediterranea começava em Savona. Na verdade, nós não sabíamos que este era o nosso último. Após sairmos do porto, alguém passou por mim no corredor e falou – Aee, vai ser transferido!.
No dia seguinte à notícia do transfer, estávamos em um at sea, e resolvemos conversar com o Poojary, que sabendo que seríamos transferidos, nos colocou em um bom horário para que pudéssemos aproveitar ao máximo os lugares por onde passaríamos e como a mãe da Débora estava a bordo, ele nos daria um lunch off no porto de Civitavecchia, para que fôssemos conhecer Roma. Mas o que mais preocupava a Débora, era não poder ir para o mesmo navio que o namorado, eu não sabia o que fazer, mas queria ajudar, e então fomos falar com o maitre, pedindo para que nos mudassem de navios, afinal, tínhamos a mesma posição e a data seria a mesma.
Ele disse que seria difícil, pois isso não se mudava da noite pro dia, mas que tentaria. Nós achamos que não era suficiente falar com o maitre e resolvemos enviar um e-mail para Martina Milano, a responsável pelo departamento de restaurante de toda a Costa Cruzeiros, explicando toda a situação.
Eu queria muito fazer o roteiro do Fascinosa, mas estava decidido a ajudar a Débora, que era minha amiga desde os primeiros dias a bordo. A Crew Purser falava que essa troca não aconteceria, então tínhamos que esperar.
Teríamos dois dias de at sea pela frente, até chegarmos à Ashdod, Israel. Então, aproveitamos a chance para pressionar o maitre e perguntar como estavam as coisas a respeito do nosso transfer e da troca de navios, mas é claro, não havia resposta alguma.
A mãe da Débora que estava a bordo esse cruzeiro, também acompanhava a situação do transfer, e acabou virando tão amiga dos tripulantes que foi em uma Crew Party nossa no crew bar, todos acharam engraçado ver a mãe de um tripulante curtindo a festa conosco.
Havíamos passado mais da metade do cruzeiro e a festa da independência do Brasil estava chegando, já havíamos comprado a camisa em Atenas, depois de uma bagunça na loja, e estava quase tudo certo para a nossa festa, o que mais nos incomodava era não ter uma resposta em relação a que navio iríamos realmente.
E em mais um dia de at sea, nós fomos ao maitre, e aí sim, nós fomos surpreendidos novamente, eles tinham uma resposta em relação ao nosso transfer. Eu iria para o Serena e a Débora iria para o tão sonhado Fascinosa, onde o namorado embarcaria em alguns dias. Eu estava feliz por ela, era a rota que eu queria fazer, mas ela era uma das pessoas mais amigas a bordo, e eu iria com o William e Júlio para o Serena.
Festa da Independência do Brasil
Rumo a Roma
Às cinco da manhã eu já estava no buffet, preparando tudo para o café da manhã e louco para dar o horário de sair, rumo à Roma. O buffet lotou rapidamente pois todas as excursões saíam muito cedo também para Roma.
Depois de quase uma hora no trem confortável (que eu dormi inclusive), veio o aviso de que a próxima estação seria a Piazza San Pietro, a do Vaticano. Logo na saída, era possível ver a catedral no fundo por entre os prédios.
Chegamos no Vaticano, e ficamos encantados com a beleza e magnitude do lugar, passado um tempo, pegamos um ônibus rumo ao Coliseu, descemos no local indicado e fizemos uma pausa para um sorvete até que viesse o outro ônibus.
O segundo ônibus fazia uma volta que passava por grandes monumentos e lugares históricos da cidade até nos deixar no começo da rua que nos levaria ao gigante. Após dois minutos andando, já era possível avistar o imponente Coliseu, gigante, ocupando toda a paisagem ao fundo, e do nosso lado direito, se estendendo por toda a rua o Fórum Romano.
Chegando no Coliseu, foi difícil segurar a emoção de ver de perto, algo que eu sempre via nos livros da escola e sempre ouvia falar como uma das referências para o mundo se tornar o que é hoje, foi como quando eu estive em Acrópole, Atenas.
Depois de algum tempo em frente ao Coliseu, fomos rodeando-o pois era impossível entrar pelo tamanho da fila, paramos pra comer e depois voltamos para a parte de trás. Quase na hora de voltar para pegar o trem, entramos na estação de metro Colosseo, e fomos até a estação de trem Roma Termini, para voltar a Civitavecchia.
Mais uma hora de trem, e estávamos novamente em Civitavecchia, onde ficamos por mais uns minutos até voltar ao barco. O dia foi incrível! A oportunidade de conhecer Roma foi única.
Essa já era a nossa última noite a bordo do Mediterranea, a Débora teve a péssima notícia de que haviam mudado o navio dela de novo, e agora todos iríamos para o Serena. Era cada vez mais estranho deixar o navio que em tão pouco tempo, havia virado a minha casa, mesmo sabendo que o Serena seria a definitiva, pelo menos pelos próximos 6 meses.
No Crew Bar, alguns amigos apareceram para uma pequena despedida e mais tarde a italiana, que parecia triste de me ver indo, mas conformada com a vida a bordo, e como sempre, meu cabin mate indonésio não me deixou sozinho na cabine, mesmo pedindo antes.
Passei a noite em claro, e como havia prometido ao Poojary que trabalharia na manhã do transfer para não deixá-lo na mão, levantei às cinco. A Débora, que também havia prometido, não tinha aparecido no buffet e também não atendia na cabine, eu já imaginava o que havia acontecido, então comecei a arrumar a linha dela também, até que o Poojary chegou e começou a arrumar também, sem reclamar pois sabia que ninguém trabalhava em dia de transfer ou desembarque. Pouco depois, a Débora chegou no buffet acabada, com cara de festa.
O café da manhã estava aberto e nós atracando em Savona, o nosso porto de sempre, a Noemi, mãe da Débora veio se despedir e agradecer pela ajuda à filha. Eu trabalharia até as nove, mas pensei em largar o buffet quando vi lá no fundo, entrando no porto, a minha nova casa, o Costa Serena.
Era maior que o Mediterranea, e na hora fiquei impressionado e com vontade de ficar onde estava. Antes das nove o café da manhã já estava acabando e eu desci, precisava arrumar a minha mala, que como sempre, ficou pra última hora. Algumas coisas não couberam, então coloquei na mala da Débora, já que ela ia pro mesmo navio.
Malas prontas, fomos todos para o Crew Office, onde o nosso transfer viria. Alguns amigos passavam pra se despedirem, e o Jhonata, resolveu que ficaria até a hora em que fôssemos embora, mesmo que dormindo por ali mesmo.
Eu já havia me despedido da italiana, mas ela veio para mais um abraço na gangway, não teve emoção como no abraço de antes, que rolaram até umas lágrimas. Depois de muito tempo esperando, o nosso transfer havia chegado, e era hora de deixar a nossa casa, rumo à outra.
Me despedi de todos os amigos que vieram, mas o mais difícil foi o Jhonata. Éramos como irmãos a bordo, e podíamos nunca mais no ver, pois ele tinha previsão de ida pra outro navio. Choramos feito crianças na gangway (não tenho vergonha de falar), achava difícil outra amizade como aquela a bordo, onde quase tudo é interesse em algo material.
O Alan nos acompanhou até o outro lado do porto, onde deixamos as malas para serem examinadas. Me despedi de outro grande amigo, e passei para a área de embarque do Serena. Havia uma fila grande de tripulantes para embarcar, a Crew Purser brasileira, Adriana, não parecia tão amigável aquele dia.
Conferindo nome e passaporte estávamos com tudo certo, mas quando chegou a vez da Débora, tivemos uma surpresa muito grande. O nome dela não estava na lista de embarques do Serena, então ela não poderia entrar no navio, perguntamos se poderia voltar ao Mediterranea, mas também não era possível, pois já a haviam desembarcado.
Como já havíamos passado pela Purser, não podíamos voltar para ajudar, então tivemos que entrar no navio, deixando a Débora com as malas na gangway, fiquei preocupado pois não sabia para onde ela iria no final e foi estranho deixá-la para trás.
Por dentro, o Serena era um navio mais novo, com uma estrutura maior e mais bonita, mas eu ainda gostava do Mediterranea. Tivemos o Safety Training, com o Francesco, officer italiano FDP. Daí, eu já imaginava que não seria nada fácil a vida no Serena.
O Jason, namorado do Júlio, veio até o Serena se despedir dele, e como estávamos em curso, ele disse que o esperaria na porta do Training Room. O curso demorou muito, e todos os visitantes já deveriam estar fora do navio, então o Júlio saiu da sala por uns minutos e voltou aos prantos. O dia estava sendo ruim pra quase todos.
“Wherever you are, be all there“. Jim Elliott
Veja Também:
0 comentários